Outros dados, agora, do DataFolha, mostram que 2,4 milhões de mulheres brasileiras sofreram agressões físicas entre junho de 2023 a junho de 2024. E que ‘uma em cada quatro pessoas’ diz conhecer vítimas de violência doméstica, o que corresponde a quase 45 milhões de homens e mulheres que sabem sobre estas agressões, contudo, de alguma forma deixando que se banalize.
Informações que ganham mais contundência quando este levantamento é sobre assassasinatos de mulheres negras, ao apontar que elas representam 62% destas vítimas no Brasil. E que meninas negras de até 13 anos são as maiores vítimas de estupro em um país onde ocorre um estupro a cada seis minutos.
Assim, hoje, dia 20, Dia da Consciência Negra. Data que, igualmente, abre a campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, com ações que buscam reflexões sobre os variados cenários da violência de gênero, com a contextualização de suas vulnerabilidades, eu posso falar com profunda tristeza e absoluta preocupação sobre como ainda somos alvos fáceis.
Como mulher, como advogada e, sobretudo, como deputada que faz parte da bancada negra desde a sua criação, em 2023, e uma dos 31 parlamentares que se declaram negros, dos 513 que participam da Câmara Federal, vejo a violência se multiplicar, com casos graves de racismo, além de elevados índices de feminicídio e de homicídio que ainda são rotina para milhares de mulheres negras em todo o país. E mesmo que nossas lutas sejam ininterruptas no Congresso Nacional, esta escalada, em especial, contra a mulher negra têm mostrado possuir muitas camadas, cujos números desafiam especialistas e autoridades das três esferas do Poder.
Desvelando que este racismo estrutural é formado moral e intelectualmente por mais de três séculos de escravidão. Por teorias racialistas que fizeram parte da construção da identidade nacional. Assim, tornando a assertiva feita em 1888, por Joaquim Nabuco, político abolicionista brasileiro ‘que o nosso caráter e nossa moral acham-se terrivelmente afetadas pelas influências com que a escravidão passou 300 anos a permear a sociedade brasileira (…) Desta forma enquanto essa obra não estiver concluída, o abolicionismo terá sempre razão de ser’.
Tirando o velho e empoeirado verniz de igualdade, e deixando à mostra que o racismo ainda hoje não foi enfrentado como deveria. E que o Estado e os governos não interpuseram ferramentas para proteger, de fato, a vida das pessoas negras no Brasil.
Gisela Simona é advogada e deputada federal